terça-feira, 21 de maio de 2013

A educação e a sua herança

Ao ler o texto “História da Educação”, de Maria Lúcia Arruda Aranha, podemos observar os resquícios existentes na área educacional carregados hereditariamente ao longo da história até os dias de hoje. Muitas transformações ocorreram, o que antes cabia somente à família na educação dos pequenos, no decorrer da história, até mesmo por motivo de necessidade do Estado, passou a ser difundido em grupo, o que transformou em um aprendizado homogêneo. Mas não devemos esquecer que isso era para poucos.

Anteriormente das crianças entrarem nas escolas, segundo Protágoras, com os dizeres de Platão, cabiam aos pais ditar seus valores, diferenciando uma coisa da outra, naquilo que achavam que era certo ou errado. A criança já entrava nas escolas com conceitos já construídos, cabia aos mestres, então, prepará-los para a vida. Esses mestres quando considerado uma mercadoria o seu saber, era considerado mercenário ou servil. Eles não deveriam cobrar para ensinar porque o conhecimento era para ser transmitido sem visar lucros, se tornando um benefício seu ou de seus próximos. O que se pararmos para refletir no que realmente acontece hoje em dia na área da educação, deixando de lado países desenvolvidos, mas aqueles que ainda são atrasados podem ser que tenha os resquícios de consequências desse passado. Aonde professores são explorados com salários baixíssimos, não dando a importância para seu saber, do quanto ele se dedicou, assim como em outra profissão qualquer que um profissional se dedica.

É importante dizer que muito antes não existiam mestres ou professores, quem incumbia de educar as suas crianças era a família, seguindo tradicionalmente a religião. Mas com o aparecimento da aristocracia dos senhores da terra, houve uma necessidade da preparação de jovens para combates e proteção da terra. Ou seja, o pensamento enquanto vida, passou de individual para comunitário, em grupo. Dessa forma, surgiram as primeiras escolas, aonde havia a troca de valores, talvez “unificando” uma cultura daquela região. Pode ser que seja radical dizer unificar, então, o melhor a dizer seria, cultura homogênea, talvez.

É muito importante deixar claro que essa escola era pra elite. Eram os filhos de ricos que iam para combates, e isso era nobre, diferentemente do que sabemos com o que ocorreu posteriormente na história da humanidade, invertendo a posição do lugar do nobre.

Assim, sabemos que nessas escolas a formação esportiva era muito forte em relação a da intelectual. Somente por volta do século V a.C. que essa concepção de preparação apenas para guerra teve uma mudança, dando espaço maior para o lado do intelecto. Isso visava a formação do homem completo, indo desde a física até a espiritual.

O que podemos observar nas epopeias de Homero, visando a educação na formação cortês do nobre. Sendo esse um guerreiro carregado de bons valores de uma sociedade aristocrática que justificava os privilégios de uma linhagem nobre de origem divina. Sua função era saber proferir palavras belas e realizar ações.

Nas escolas espartanas, ao contrário de outras cidades gregas, havia uma valorização muito grande para a preparação para o combate, e isso acentuou mais quando Esparta derrotou Atenas. Nessa época começa a política de exclusão, aonde somente àqueles que eram fortes e saudáveis sobreviviam, os fracos e deficientes eram abandonados porque não serviam para guerrear.

Com uma educação pública e obrigatória, as crianças começam a frequentar a escola aos sete anos, aonde tinha atividades de dança, música e canto até os doze anos. Depois disso, a educação física se torna uma preparação para combates, o que não deixava de ser importante também a educação moral, como a obediência, aceitação de castigo e respeito aos mais velhos.

Ao contrário de Esparta, os atenienses valorizavam o lado intelectual. A educação também inicia aos sete anos e o ensino não é obrigatório e nem gratuito, sendo uma iniciativa particular. Assim, iam o escravo, um pedagogo e o aluno no local onde praticava exercícios físicos, nesse que não aprendia somente a destreza corporal, mas também orientações morais e estéticas. Tinham a preocupação com a formação integral do homem, tornando-se útil em palavras e em ações.

Como eles valorizavam bastante a formação intelectual, houve a formação de três níveis da educação: a elementar, a secundária e a superior. Sendo a educação elementar tendo o término por volta do treze anos, o que poderíamos dizer que seria a nossa educação fundamental. As crianças que eram de famílias pobres iam à busca de algo para fazer em suas vidas, enquanto que as de famílias ricas continuavam os seus estudos, sendo essa próxima etapa a educação secundária, talvez o antigo ginásio que conhecemos. Deixando claro que dos dezesseis aos dezoito anos a educação militar era obrigatória na educação.

A educação superior era para poucos, aonde se dedicavam a profissionalização dos mestres e à didática. Sócrates, Platão e Aristóteles eram professores da educação superior. Podemos observar que essa formatação da educação permanece até os dias de hoje, algumas coisas se assemelha bastante com as escolas militares que temos por aqui, em outras que não são militares pode ser que venha acompanhada com outros nomes, conteúdos e pensamentos, mas a ideia é a mesma.

Já no período helenístico, por volta do século IV a.C., com a decadência das cidades-estados, há a fusão de civilizações, o que denominamos de cultura helênica. Nela ocorre algo inovador, o tempo para os exercícios físicos diminuem e há o aumento de estudos teóricos, dando valor à formação do homem culto. Disso resultou a proliferação de escolas filosóficas, sendo que a junção de algumas delas deu vida a Universidade de Atenas.

Diante tudo isso, podemos observar que a educação sempre foi voltado aos interesses do Estado. Anteriormente devido às guerras tudo era voltado em cima disso. Mas com o tempo a valorização do intelecto do homem começou a ter o seu destaque e foi deixado para trás a supervalorização da educação voltada para a guerra, resultando no que temos hoje, países desenvolvidos. A força física perante o Estado não fazia mais serventia, foi deixada para trás, e o que resultou e está prevalecendo até hoje é a força mental, resultando no que temos: uma guerra de intelectos.


Textos base:
- História da Educação - Maria Lúcia de Arruda Aranha
- Aristóteles, Política -  Trad. Mário da Gama Kury. Brasília, Ed. Universidade de Brasília, 1985, p. 269-270