terça-feira, 27 de dezembro de 2016

"O Vilarejo" - Raphael Montes

Hoje eu vou escrever sobre um livro de um autor brasileiro, o Raphael Montes. Geralmente temos preconceito ao ler livros de autores nacionais, ainda mais se tratando do gênero policial, julgando-o ruim antes mesmo de lermos. Eu, a princípio, fui uma dessas. Estava acostumada a ler autores como Agatha Christie, Stephen King, ou até mesmo romances policiais como os livros de Sidney Sheldon, não esquecendo da febre atual dos livros de Stieg Larsson...e vi que estava enganada, temos coisas boas por aqui.

Muitas pessoas que adoram literatura policial já o conhecem, mas para aqueles que não o conhecem, deixo aqui o penúltimo livro que ele escreveu. O livro é "O Vilarejo" e conta com ilustrações maravilhosas de Marcelo Damm. Vocês irão ver algumas delas por aqui.

A história começa da seguinte forma, em 2014, Raphael Montes recebe uma ligação de um sebo em Copacabana, que lhe oferece alguns livros da falecida Elfrida Pimminstoffer. No meio desses livros ele encontra três cadernos de capa de couro, com textos escritos a mão, na língua cimério e com ilustrações tenebrosas. No interior das capas dos cadernos tinha o nome de Peter Binsfeld, que ao procurar na internet, descobriu que ele era um padre, teólogo e demonologista. Quis saber o que estava escrito, e pediu ajuda para o professor Uzzi-Tuzii, conhecedor da língua ao qual o texto estava escrito. Ele se recusou a ajudar, mas ofereceu um dicionário cimério-italiano. Assim, Raphael o traduziu.

O seu conteúdo era composto por sete histórias que se passava em um vilarejo, esse que por algum motivo não existe mais. Mas talvez você entenderá a causa após ler esse livro.

"O vilarejo, se existiu em algum momento, sumiu do mapa. Os cimérios desapareceram como se a terra os tivesse engolido."

Nele relata que o vilarejo encontrava dificuldades para que chegasse comida na região. As saídas estavam soterradas, de modo que ninguém entrava e nem saia. O lago estava congelado. O frio destruiu comércio e plantações. Muitos estavam morrendo.

Em o "Banquete para Anatole", o primeiro conto. Felika desesperada com a situação, junto com suas três crianças, fez um pequeno estoque de broto, raízes e ossos de rato para dar sabor na sopa. Mas por mais que ela tentou estender o estoque, de nada adiantou, acabou. Ninguém mais tinha comida. Anatole, seu marido, tinha ido para a floresta em busca de comida, mas ainda não voltara. Dias se passaram. As crianças não comiam há dois dias...Anatole chega com o que havia conseguido da floresta.

"Espanta-se que a esposa esteja tão sadia e corada. — Tenho dado meu jeito — gaba-se Felika. — Parece até um tanto mais... gorda!"

Ao chegar na sala, a procura das crianças, ele encontra um cenário de horror. O que teria visto Anatole?

A segunda história é "As Irmãs Vália, Velma e Vonda". Vália, dezessete anos, namorada de Krieger e irmã mais velha das irmãs gêmeas Velma e Vonda, treze anos. Todos os domingos Vália, com seu namorado, levava suas irmãs ao descampado para se encontrarem com sua amiga Jekaterina e poderem criar histórias. Em suas criações elas utilizavam pessoas do Vilarejo como seus personagens. Velma que era a mais mandona das irmãs, entendiada com a história que já tinham começado, propõe que começassem uma outra, cujo personagem seria Krieger. Mas Vonda em sua imaginação, acabou misturando os seus devaneios com a realidade...e o resultado infelizmente foi cruel. O que teria feito Vonda?

Uma outra história é "O negro caolho". Um negro chega no Vilarejo a procura de suas duas filhas. Seu nome era Mobuto. Ao chegar, Ivan, um morador do Vilarejo o espanca dizendo ser um monstro. Todos os moradores o apoiam nisso e continuam o massacre. Porém, Helga, uma moradora, ao ver fica injuriada com a cena e o salva das mãos do bruto, levando-o para sua casa. O negro passa a trabalhar para a mulher em troca de moradia e comida. O tempo passa e ele fica desconsolado porque se continuasse daquele jeito, iria ficar para o resto da vida naquela casa. Não vendo outra opção, começa a ficar rebelde. Helga passa a dar razão aos moradores do local e o trata mal...Qual teria sido o destino de Helga?

A quarta história é "A doce Jekaterina". Mikahil adormecido em um banco na ala hospitalar da cidade é despertado pelo choro de uma criança. Fora cansativo a sua viagem de trem até lá. Seus últimos vinte e cinco anos que passara no vilarejo resultou-o em uma aparência repugnante e piedosa. Suas lembranças passadas começaram a vir a tona. Era obcecado por mulheres fartas. Suas relações todas eram com prostitutas. Até algo o chamar atenção, Jekaterina, sua vizinha, uma jovem farta. Ele passa a persegui-la. Porém, um dia, ele abusa sexualmente da pobre garota. Os abusos começam a serem constantes. Mas um dia ela some, retornando muito tempo depois com uma surpresa para Mikahil...O que seria?

A outra história é "A verdadeira história de Ivan, o ferreiro". Ivan, preguiçoso que era, estava tomando coragem para ir atrás de alimentos e madeiras para se aquecer no frio. Comendo seus dois últimos biscoitos que tinham no pote, lembrou de quando suas encomendas chegaram no vilarejo, duas negras que vieram dentro de maletas, com idade entre sete ou oito anos. Elas seriam suas escravas e foram levadas para o porão, onde passariam a viver. Mas de onde viera essas meninas? Depois lembrou de uma visita inesperada, que afinal, ele esperava há tempos. Quem seria?

Em "O porquinho de porcelana da Sra. Branka", o sexto conto, Latasha era uma menia orfã que foi criada por sua avó por parte de mãe, a Sra. Branka. Sua avó se dedicava a costura, que vez ou outra saia para entregar as costuras na cidade ou para falar com o seu contador. Então, desde pequena aprendeu a se virar sozinha. Também aprendeu a dar valor no dinheiro. Mas o tempo passou, os gastos aumentaram, enquanto o que ganhava era pouco para sustento. A medida que Latasha ia crescendo, mais gastos tinham. Ganharam um porquinho de porcelana do contador para que poupassem o dinheiro. A orfã já não aguentava mais a avó e a suas mesquinharias. Sua avó fissurada por dinheiro que era, teve que fazer algo muito radical. O que teria feito a Sra. Branka?

E para finalizar, a última história: "Um homem de muitos nomes". Anatole saíra  a busca de alimentos. Já estava fora de casa há dias, prestes a morrer no meio da floresta e sem nada caçado. Pensa nos três filhos e em sua esposa Felika, quando de repente recebe a ajuda de um velho e desconhecido, que o alimenta. O velho oferece suas caças para que ele pudesse levar. Chegando em sua casa, cumprimenta a sua mulher com um beijo demorado, vai ao encontro das crianças e o cenário é de horror. Quem seria esse homem que o ajudou?

Todos os acontecimentos tenebrosos do vilarejo foram desvendados.

"— Meu caro Anatole, estou feliz em vê-lo novamente. — O velho curvado surge de um canto escuro e estende a mão numa saudação cordial. — Fez bom uso da comida que lhe dei?"

Quem escrevera esses contos? Raphael Montes procura a bisneta de Elfrida Pimminstoffer, Ana, e fica encabulado ao descobrir informações de quem escrevera esses contos. Então, por meio de uma foto, Raphael descobre o verdadeiro autor. Quem seria? Teria mesmo existido o vilarejo? Você fica com um misto de que talvez sim, ou não.

"Tentei saber a origem de Elfrida, mas Ana não tinha muito a dizer. A bisavó morava na região da Ciméria, no Leste Europeu. Quando resolveu vir para o Brasil, fugindo de uma guerra civil, assumiu um novo nome — Elfrida — e fez aqui sua família."

Para quem não leu "O Vilarejo", eu aconselho que leia. Um livro muito bom, onde seus contos são muito bem amarrados entre um personagem e outro, o que faz com que a gente vá entendendo o porque das situações. Ele traz sete contos, cada um como forma de representação de um dos sete pecados capitais e seu respectivo demônio. São eles: Belzebu (gula), Leviathan (inveja), Lúcifer (soberba), Asmodeus (luxúria), Belphegor (preguiça), Mammon (ganância) e Satan (ira). Como o gênero do livro é policial, não tinha porque eu ficar detalhando muito os fatos no resumo, por isso, deixei para que vocês lessem e descobrissem por conta própria muitas coisas que não escrevi aqui. Corra pegar o seu livro!

Avaliação:   😊😊😊😊😊

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